A exposição virtual Empoderando a sociedade: 60 anos do ensino de Arquivologia no Brasil nasceu quase por acaso. Quando aprovamos o projeto de extensão homônimo, em março de 2020, a intenção era produzir apenas uma exposição itinerante em suporte físico e formato “clássico”: grandes painéis com textos e fotos, um ou outro recurso videográfico, algum objeto museológico… À época, imaginávamos percorrer Santa Maria e arredores, não mais do que isso.
Quando a pandemia da Covid-19 começou a assolar o Brasil, imaginamos que nossos planos teriam de esperar. Em meados de março, as universidades brasileiras suspenderam suas atividades e nosso projeto – recém contemplado pelo Fundo de Incentivo à Extensão da Universidade Federal de Santa Maria – foi interrompido. Por um instante, a vontade de fazer nos pareceu menor que a possibilidade.
No entanto, quando o Arquivo Nacional e a Casa de Rui Barbosa decidiram manter a programação da 4ª Semana Nacional de Arquivos através de atividades virtuais, decidimos que era hora de retomar a ideia. Já havia algum material reunido, parte da equipe estava mais ou menos engajada e o formato da exposição poderia ser readequado para o espaço digital: por que não tentar?
No final de abril, decidimos abraçar de vez na ideia da exposição virtual. Como nosso cronograma anterior era bem mais elástico, tivemos de correr com prazos, dividimo-nos em distintas frentes de trabalho e mudamos algumas concepções iniciais. O resultado deste esforço pode ser conferido ao longo do produto que agora apresentamos – vibrante e cheio de conteúdo, mas igualmente lacunar e “em processo”.
Falemos um pouco disso.
Quando começamos a levantar episódios, personagens e documentos que pudessem compor o conteúdo da exposição, percebemos que a Arquivologia brasileira é cheia de lacunas. Faltam informações básicas sobre acontecimentos importantes e há fatos que parecem nunca ter ocorrido, tamanha ausência de referências (fotos, vídeos, documentos…). Não bastasse isso, o isolamento provocado pela pandemia proporcionou o fechamento de muitas instituições que poderiam nos subsidiar com registros importantes para o trabalho.
Por conta disso, decidimos mudar mais uma vez parte do plano inicial. Nesta nova versão, além de uma exposição virtual, resolvemos tratá-la como um trabalho em aberto, uma obra colaborativa, que, esperamos, receberá contribuições de todo o país por um bom tempo. Nossa ideia é de que as lacunas da Arquivologia possam ser preenchidas por quem esteve, presenciou ou viveu episódios que narramos – ou que, por desconhecimento, sonegamos – ao longo da exposição. Na seção “Sobre ausências” explicamos melhor essa ideia .
O intuito é chamar a atenção da comunidade arquivística para um fato muito importante: precisamos contar a história da Arquivologia brasileira. Isso é o mínimo que se espera de um campo do conhecimento dedicado, em grande parte, ao passado dos outros. Mas é também uma tarefa fundamental para o futuro do ensino, da prática profissional e da identidade dos arquivistas brasileiros. A atração de novos e qualificados profissionais depende diretamente da imagem que a Arquivologia tem de si própria.
Por último e mais importante, uma rápida palavra sobre o mote central desta exposição. Os 60 anos do ensino de Arquivologia no Brasil – quando se completam seis décadas desde a configuração do Curso Permanente de Arquivo, inaugurado em 1959 – representam mais que uma efeméride importante para professores e discentes da área: a data significa o aniversário da própria Arquivologia brasileira. Ao longo destes 60 anos, tornamo-nos milhares de arquivistas, organizamos dezenas de edições de eventos, escrevemos incontáveis páginas que teorizam o conhecimento arquivístico e demos, com nosso trabalho, uma contribuição indelével para o empoderamento cidadão da sociedade brasileira. Comemorar essa trajetória, portanto, é mais do que preciso. Reverenciá-la é um dever de memória para o qual nos dispomos, com a sua colaboração, a contribuir.
Vida longa à Arquivologia brasileira!