Política estudantil
É possível pensarmos que o movimento estudantil existe desde o primeiro curso de Arquivologia. Afinal, ali estavam os primeiros estudantes buscando conhecimento para sua profissão. A trajetória do movimento toma forma a partir da criação dos primeiros diretórios e centros acadêmicos em cada curso nas universidades públicas do país.
Os diretórios ou centros acadêmicos possuem um importante papel na formação política e crítica dos acadêmicos. As gestões, de forma conjunta e participativa, podem promover a luta por direitos dentro e fora das universidades, buscando melhorias não só de forma direta nos currículos ou então indireta por uma sociedade mais empoderada do conhecimento. Estes centros são células de um movimento integrado que funciona ligado à outras instâncias estudantis com o Diretório Central de Estudante em cada universidade (DCE), a Executiva Nacional dos Estudantes de Arquivologia (ENEA) ou a União Nacional dos Estudantes (UNE). E é a partir destas organizações que estudantes no Brasil inteiro reúnem-se para pensar, debater e lutar por questões estudantis e educacionais. Além disso, os diretórios acadêmicos são responsáveis por promoverem eventos regionais em suas universidades, à exemplos das diversas Semanas Acadêmicas de Arquivologia que ano após ano acontecem trazendo e criando conhecimento arquivístico e científico.
E no Brasil, os estudantes de arquivologia desde cedo reúnem suas forças em prol da área. Em setembro de 1977, tivemos a fundação do Grêmio Acadêmico Alcides Bezerra (GAAB) – a primeira instituição de estudantes de Arquivologia do país – formada por alunos do Curso Permanente de Arquivo que era promovido pelo Arquivo Nacional e que posteriormente veio a se tornar o Curso de Arquivologia da UNIRIO. Este Grêmio certamente foi um significativo feito e um grande avanço da Arquivologia brasileira, pois a partir desta movimentação hoje temos diversos centros e diretórios acadêmicos que constroem e fortalecem a área diariamente.
Um dos principais momentos desta consolidação na área da Arquivologia no Brasil, aconteceu no primeiro Encontro Nacional dos Estudantes de Arquivologia (ENEArq), em setembro de 1997. Este encontro é um dos eventos estudantis mais importantes na arquivística brasileira, sendo o único que acontece regularmente sem interrupções desde sua primeira edição. O ENEArq já teve 22 edições trazendo debates e temáticas de suma importância para a área. Entre estes estão: “A busca de uma identidade contemporânea para a Arquivologia” (1997); “Estudante – Universidade: capacitação teórica e profissional” (1998); “Os novos cursos de Arquivologia e a questão curricular: o que esperar do novo profissional?” (2003); “Arquivologia: construção humana do saber” (2007); “Arquivologia: novas exigências da sociedade do conhecimento” (2008), “Profissional Arquivista: da formação acadêmica as possibilidades de atuação no mercado de trabalho” (2014) e “O arquivo e seu fazer na manutenção da democracia: atuação, sociedade política” (2018).
Por anos os estudantes de arquivologia se articulam em eventos, como no ENEArq, em buscas de soluções, inovações e novos anseios em busca de um currículo de acordo com a necessidade da prática arquivística ou então por um currículo mais humanista, abrangente e qualificado. E são eventos como este que proporcionam avanços em uma área. Cabe aqui ressaltar a importância do envolvimento estudantil na realização de eventos, pois os estudantes podem representar os questionamentos, as novas práticas, os novos debates e principalmente a inovação na Arquivologia.
O movimento estudantil é polissêmico. Buscamos no aprendizado, na pesquisa, nas ações, cada vez mais crescer como acadêmicos e futuros profissionais, procurando sempre combater tensões vividas em um mundo tão plural e ainda com tanta desigualdade. É com uma busca constante que estamos sempre em um movimento de construção e desconstrução de certezas, sempre em busca de alinhamentos precisos, teóricos e respeitosos. É também o contínuo questionamento acerca das mais diversas temáticas, sejam da área, sejam do mundo que somos parte.
Também é nosso papel como estudante defender a universidade pública, ou diríamos “defender o ensino”. Defender a qualidade e também a disseminação do conhecimento. Lembremo-nos de que os estudantes brasileiros como um todo sempre tiveram um papel fundamental na defesa, não só da Educação Brasileira como de diversos direitos ao lado da classe trabalhadora e da sociedade civil. Entendemos que é da sala de aula para a prática, pesquisa e extensão, que vamos fazer a diferença na sociedade gerando desenvolvimento e inovação em nosso país.
Texto elaborado pelos acadêmicos Letícia Gaiardo, Marcos Machado Paulo e Roberta Wagner, integrantes do Diretório Acadêmico do Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (DACAR/UFSM).